Marketing é uma arte. Que o diga a revista inglesa Restaurant, que era um zero à esquerda até inventar a genial lista dos 50 melhores restaurantes do mundo. Na primeira edição, em 2002, a coisa era pequena, o júri era “de casa” e, óbvio, deu Inglaterra na cabeça. Cinco restaurantes dos 50 melhores DO MUNDO, pra ser exata, eram British. Inclusive o The Ivy (8º lugar) que é mais ou menos um Gero londrino. Sempre cheio de gente conhecida mas não exatamente um lugar de grandíssimas ambições gastronômicas. Teve muita gente que reclamou à beça, dizendo que a lista era furada – mas mesmo assim fez um sucesso louco.

Com o passar dos anos, o pessoal da então revistinha foi aperfeiçoando a brincadeira. Buscaram jurados de outros países. Mudaram as regras, pra fazer com que o mundo estivesse melhor representado e a lista saísse menos euro-cêntrica. Escalaram até um juri sul-americano, imaginem vocês. Josimar Melo chefia, e eu, com muita honra, faço parte.

E nessas a revistinha virou revistona. E a edição dos 50 melhores ganhou patrocinadores de peso, como San Pellegrino e Nespresso. Ficou importante pra caramba, é noticiada em todos os cantos do mundo com grande estardalhaço. E os ganhadores, como o El Bulli, por exemplo, passam a ser citados em todas as matérias assim: O El Bulli, eleito melhor restaurante do mundo no ranking da revista Restaurant, bla bla bla.

O que é um baita feito para a revista. Hoje em dia, citar um chef e sua colocação na lista é tão corrente no jornalismo como dizer quantas estrelas Michelin tem o chef.

Eu não falei que os caras eram bons de marketing? ;)

A lista de 2009 sai segunda que vem, à noite. E eles, como bons marketeiros, já tão soltando umas pilulinhas de informação pra deixar os jornalistas salivando. Chegou essa hoje:

“O multi-ganhador de prêmios Joel Robuchon estará presente na premiação dos 50 melhores restaurantes do mundo na segunda dia 20 para aceitar o Lifetime Achievement Award. Quando ele soube da notícia, Robuchon perguntou: “Isso quer dizer que estou no outono de minha vida como chef, tendo deixado os melhores anos para trás, ou quer dizer que eu dei prazer a gourmets e significado à nossa bela profissão?”

Seria impossível dizer que os melhores anos já se foram para o homem que continua criando como nunca. Em janeiro ele abriu seu primeiro restaurante japonês “puro” – YOSHI – em Monaco.”

Uma bobagem, isso de lifetime achievement. Ninguém precisa de revista alguma pra constatar o óvio ululante: o Robuchon é f...a.

O que estou louca pra saber, isso sim, é que cara vai ter a lista 2009. Nos últimos anos, andava repetitiva. Fat Duck, El Bulli. El Bulli, Fat Duck. Bocejo.

Eles, espertos, resolveram mudar as regras de novo pra dar uma reembaralhada no baralho. Inventaram uma dizendo que a gente só podia votar num restaurante onde tenhamos comido nos últimos 18 meses.

Bom, com essa regra, o El Bulli basicamente dança. Porque o lugar só abre no verão , só serve jantar e não gira mesa e... bom, pra resumir, é impossível comer lá mais do que uma ou duas vezes na vida. Então se os jurados seguirem a regra nova, só um ou outro gato pingado que por acaso esteve no El Bulli no verão de 2007 ou 2008 teria podido votar nele. E sendo assim... bau bau El Bulli no primeiro lugar da lista.

E outros também cairão no ranking por causa da nova regra, que acabará dando vantagem a lugares maiores, e em metrópoles como Nova York e Londres, com mais chance de ter recebido visitas de um número maior de jurados em 2008.
Justo? Injusto? Vocês decidem, aqui nos comentários!

por Alexandra Forbes
é jornalista e crítica gastronômica. Autora dos livros Isabella Suplicy: Arte em Açúcar e Jantares de Mesa e Cama, mudou-se para o Canadá há cinco anos e viaja pelo mundo comendo e bebendo. Adora foie gras e trufas, mas sente saudades mesmo é da leitoa com farofa e feijão que comia nas férias de infância passadas na fazenda.