Não há Carnaval sem máscaras,
mas de Norte a Sul do país,
não há máscaras como estas,
de Trás-os-Montes.
Chamam-lhe caretos, farapéis, farpares
ou o que quiserem:
estas máscaras são únicas.
No Entrudo
come-se tudo...
O antigo Entrudo português - caceteiro e ofensivo, avinhado
e licencioso, tinha um dito relacionado com a comida:
"No Entrudo come-se tudo".
Mas é preciso cuidado com afirmações definitivas:
no Entrudo, não tem lugar o peixe, que segundo a sabedoria
popular não puxa carroças, e nesta quadra festiva há sempre
carroças a puxar, algumas bem pesadas por sinal.
O Carnaval é festejado nos três dias que antecedem
a Quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e se
prolonga até à Páscoa.
Mas em rigor, logo a seguir à quadra natalícia,
mais concretamente no termo do período dos doze dias que vão
do Natal aos Reis, começa a preparar-se o ambiente para o
Carnaval. E pode-se dizer que noutros tempos a época
carnavalesca começava mesmo no Dia dos Reis, 6 de Janeiro. A
partir de então, os domingos eram assinalados por festas já
carnavalescas e grandes comezainas, o que levou a apor-lhes
o designativo de Domingos Gordos.
Assim nasceram as feijoadas de Carnaval, e diga-se
desde já que as melhores são as do Norte, com destaque para
as transmontanas, enriquecidas com o fumeiro da região.
Na Beira Litoral, faz-se uma feijoada com
orelheira, a que se juntam muitos nabos (4 para 1 orelha) e
a respectiva rama, tenrinha.
Nas Minas da Panasqueira, há uma feijoada
temperada com massa de pimentão, e na qual, do porco, só se
usam os pezinhos.
No Porto, toda a gente sabe, fazem-se grandes
feijoadas e diga-se enfim que as tripas não seriam o que são
se lhes faltasse a saborosa leguminosa. Falta acrescentar
que os açorianos juntam à feijoada ramos de funcho,
prevenindo assim eventuais flatulências.
Manda a tradição que a feijoada seja sempre
acompanhada por arroz, e há uma explicação para o facto: o
cereal melhora a qualidade das respectivas proteínas.
No Norte, em princípio, o arroz é de forno,
devendo ser servido no recipiente em que foi cozinhado.
Será necessário dizer ainda que as feijoadas são
melhores se forem reaquecidas.
O feijão chegou à Europa Ocidental em 1528 e os
historiadores atribuem o feito ao Papa Clemente VII que,
tendo recebido das Índias Ocidentais umas estranhas sementes
em forma de rim, ordenou a um frade, Piero Valeriano, que as
semeasse.
Os resultados finais foram excelentes: além do
mais, os frutos produzidos (baptizados com o nome de fagioli,
por fazerem lembrar as favas) eram agradáveis ao paladar.
Quando Catarina de Médicis viajou para Marselha,
para casar com o Duque de Orleães, futuro Henrique II, o
frade Valeriano explicou-lhe que os homens também se
conquistam pelo estômago e meteu-lhe na bagagem um saco com
feijões.
Parece que o frade tinha toda a razão.