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- Federação


por
Paulo Sá Machado


 

 

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Fundação:
1 de Janeiro de 2000

Filiada na Federação Nacional das Confrarias da Gastronomia Portuguesa

Madrinha: Confraria Gastronómica do Bacalhau

Confraria Geminada: Cofradia Amigos de los Nabos das Astúrias
                           

Confraria Nabos e Companhia



Propósitos:
Enquanto Confraria Gastronómica estamos vocacionados para comer, mas fazemo-lo no espírito de promover os grelos de nabo  - produto genuíno da terra - e prestigiar a gastronomia Gandaresa que fazemos obrigatoriamente acompanhar de nabos, ou grelos ou respectiva rama.

Insígnia:
Um barco funde-se com uma carroça encimada por um nabo. Símbolos de gente que, um pé na terra, outro no mar, labuta árdua e diariamente.

Actividades Culturais:
Livro "Contos da Confraria
Livro "Contas da Confraria"


Direcção:
Dr. Silvério Jesus Manata
Fernando dos Santos Conceição
Nuno Roberto de Jesus Janicas

Sede:
Rua Dr. Manuel Rosete, 185
3070-616 Carapelhos - Mira

contactos: Tel: 964 019 120 / 967 162 287

 
 
 


 


A associação CONFRARIA NABOS E COMPANHIA de Carapelhos é a única Confraria Gastronómica oriunda de uma aldeia.
Para isso nasceu. Para autenticar a ruralidade, para homenagear e divulgar cada vez mais a genuinidade das suas gentes e dos seus grelos de nabo – alimento rico de aromas e sabores que, versátil, valoriza a gastronomia Gandaresa.
E fá-lo desde o ano 2000.
Porém, esta terra, sendo mãe, (e é conhecida a nossa afeição à terra - mãe que nos embalou a infância) é simultaneamente madrasta porque, para além do berço modesto, com pouco mais nos mimou: herdámos-lhe um chão areento, quase estéril, que não enche cristãmente a boca a todos e obrigou a sangria grande de homens. Os que, mais apegados ao torrão natal, não ousaram tornar-se andarilhos entregaram-se a uma agricultura de subsistência cuja adiafa acontecia em Outubro. Mas incomodava-nos aquele sossego de Outono que se estendia até Janeiro. Dominando mal o impulso que nos impele a amanhar a terra para fecundá-la e garantir o sustento até ao ano novo, ensaiámos os grelos de nabo que, resistentes ao frio e apreciadores da humidade de Inverno, se adaptaram. O resto da história é conhecido. Hoje partem daqui camiões para os mercados europeus. Da saudade ou não. E das 151 famílias que habitam a terra em permanência, apenas 15 não vivem do cultivo dos grelos de nabo, o que nos esclarece àcerca do peso desta actividade na economia local.

Reflexos desta actividade que, à míngua de registos, se perdem no tempo, encontram-se até no culto religioso: a festa da Senhora da Conceição, padroeira desta terra que se celebra no dia 8 de Dezembro, também sempre foi conhecida por festa das cabeças. De nabo, obviamente. Até o ritual de entronização, em que o novel confrade bebe pela cabeça do nabo, testemunha a tradição dos tempos em que, pela festa, se talhava na cabeça do nabo, o copo por onde escorria o vinho.

A confraria pretende dar continuidade ao espírito agremiador propiciado pelas pequenas comunidades. Somos autênticos nabos, nascidos e criados na região da Gândara que, em bloco, aderimos às múltiplas iniciativas protagonizadas pela Confraria. A começar por aquela para a qual, enquanto gastrónomos, estamos vocacionados: comer. Os nossos encontros regulares são realizados numa autêntica e tradicional casa da região – a casa Gandaresa – onde cada confrade é submetido ao teste da cozinha e carece da aprovação de todos os outros.

A nossa Gastronomia Tradicional Gandaresa não se confina aos produtos da terra. Àquilo que lhe arrancamos juntamos a dádiva do mar e da Ria. Se somos a aldeia mais afastada do nosso concelho de Mira a que foi concedida a bênção de espraiar as suas magníficas matas verdes por largos quilómetros de Atlântico e inúmeros canais de água doce, tivemos o privilégio de encostar a um distrito que empresta o nome a um vasto lençol de água: a Ria de Aveiro. E a míngua de pão empurrou-nos cedo para lá. Fosse ao leme de um moliceiro na apanha dessa alga capaz de fertilizar o sustento; fosse, feitos marinheiros descobridores do século XX na proa de um bacalhoeiro em demanda do fiel amigo na solidão fria dos mares gelados; fosse nas marinhas, vergados ao peso da cesta de sal que haveria de conservar o bacalhau que estava logo ali ao lado, nas secas; fosse ainda, água pelo pescoço, ao calcão à cata das enguias. Mas as sardinhas na telha, o pitáu de raia, as batatas assadas na areia com carapau e grelos, os berbigões abertos na brasa eram (e são) lenitivo para tantas canseiras. Para não falar das enguias. Das de caldeirada às suadas e às de escabeche. E do bacalhau. Das caras aos buchos e às línguas.

Dentro do espírito de ver reconhecida a genuinidade dos grelos de nabos e a actividade que ocupa cerca de 80% da população da aldeia, promovemos a criação da ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE GRELOS DOS CARAPELHOS. O esteio da certificação, esperamos, de um produto que se alargou à região. Para isso promovemos, em parceria com a Câmara Municipal de Mira e outras entidades, a FEIRA DOS GRELOS DA REGIÃO DA GÃNDARA que se realiza em Janeiro. Neste contexto de divulgar e levar longe o nome da terra e do Concelho e, por que não dizê-lo, aprender, temo-nos feito representar em grande número de eventos e marcado presença regular nos meios de comunicação social, nomeadamente na televisão. Mas não ficam por aqui as nossas actividades. Outras se destacam:

- Abertura da Feira Gastronómica de Santarém.

- Lançamento do livro «Contos da Confraria».

- Geminação com a «Cofradía Amigos de los Nabos» das Astúrias.

- Participação, a nível mundial, no concurso Slow-food.

- Embaixada à América para promoção dos grelos e da região

- Criação de DVD sobre o concelho de Mira.

- Plantação de uma vinha.

Mas estes homens não esquecem as raízes. Usamos, como traje, o gabão dos nossos avós com uma insígnia onde um barco se funde com uma carroça encimada por um nabo. São símbolos óbvios de gente que, «um pé na terra outro na água», labuta árdua e diariamente pela côdea.
Por isso deu já entrada na Câmara Municipal o projecto de um monumento, da autoria do arquitecto Carlos Mendes, que irá ser implantado no largo da fachada da Casa Gandaresa, que celebra os grelos de nabo e as suas laboriosas gentes.
 



VII Grande Capítulo - 2008

Nós, Nabos e Companhia, celebramos hoje o nosso VII CAPÍTULO. Festa maior de uma confraria cuja significação radica nas assembleias gerais periódicas de uma congregação religiosa onde, no início dos encontros, se procedia à leitura de um capítulo da REGRA MONÁSTICA, conjunto de preceitos destinado a guiar a conduta das comunidades monásticas de que há rasto nos nossos actuais Regulamentos Internos. Da ancestralidade e do contexto onde ocorria o capítulo, emana, pois, ainda hoje, ao ser actualizado neste ritual festivo, uma certa aura de religiosidade.

Porém, se enquanto confraria é relevante que recuperemos esta solene cerimónia monastical, que legitimidade terá uma Confraria Gastronómica para se reclamar herdeira de tão austeros e frugais cerimoniais?

Parece haver uma certa incompatibilidade entre o substantivo confraria e o adjectivo gastronómica que a caracteriza. O conceito de confraria possui algo de esotérico e conquistou já o inconsciente colectivo com foros de sacralidade: é a fraternidade que comporta a ideia de disponibilidade para o outro e através da qual se há-de ascender ao absoluto, enquanto o termo gastronómica, que particulariza a ideia de irmandade, remete para o corpóreo, para a prosaica tarefa do aparelho gástrico. É o conceito, aparentemente antagónico, da espiritualidade de um D. Quixote a vergar-se ao materialismo de um Sancho Pança.

Esgaravatando, há-de pôr-se a descoberto a raiz grega do adjectivo gastronómica cuja etimologia encaminha para a vileza de ingerir e processar alimento, seja para humanos ou para animais. Fazê-lo era, instintivamente, garantir a sobrevivência mas, progressivamente, desfrutar dos prazeres proporcionados pela comida e era, continuando a herança dos imemoriais tempos pagãos, poder manifestar a alegria de estar vivo; era, num mundo politeísta e dedicado ao culto naturalista, celebrar agradecidamente as Divindades da Fartura; era festejar a Natureza. Foi converter o simbolismo litúrgico do trigo e do vinho dos mistérios Eleusinianos no ritual cristão da Última Ceia. É a coabitação do profano e do sagrado.

Neste contexto, o acto primordial que assegura a continuidade da espécie começou a estar para além das necessidades vitais. A abundância trouxe o desejo da novidade, da experimentação, do exotismo. Cada vez mais elaborada, a comida foi-se requintando e a evolução semântica do étimo gastro ganhou estatuto que, pela sua abrangência, a eleva acima do conceito de culinária: é o culto epicurista da mesa

Enquanto o refinamento dos alimentos vai ganhando peso definha a noção de desavença entre matéria e espírito e ganha consistência a ideia do ser humano enquanto um todo indissociável, de corpo e alma. Nesta perspectiva, o acto de comer não é um acto desgarrado da envolvente cultural e social. Fazê-lo é preservar o património e os valores imateriais da gastronomia tradicional.

O Gandarês lançou mão da dádiva do mar que lhe ronda a porta e dos escassos produtos de um chão areento. Foi desta união do Atlântico com a areia maninha que a cozinha desta região encontrou a sua expressão mais genuína; daqui lhe arrancou manjares que nos confortam o espírito e o estômago e são esses saberes ancestrais que evocam em nós uma infinidade de vivências e sensações. O culto pelos prazeres da mesa regional motivou-nos a fundar uma associação que homenageia a genuinidade de sabores e saberes daquilo que por cá ainda se saboreia.

Conscientes de que quando um punhado de NABOS se senta à mesa é a Gândara toda que para aí é convocada, reconcilia-se o conceito antinómico dos elementos constituintes de confraria gastronómica pois há algo de abençoado e litúrgico em preservar e divulgar a partilha saudável e festiva dos paladares gandareses. Há oito anos que vimos construindo essa mesa com alma.

Justificada a dignidade de um capítulo gastronómico, e porque neste contexto também cabe celebrar a mitologia das colheitas, a nossa escolha para a cerimónia de insigniação dos novos confrades não recai no convento (que não temos) mas num campo de grelos de nabo, alimento rico de aromas, sabores, vitamina c e ácido fólico que optimiza a nossa gastronomia. Espaço pouco acolhedor mas que, para além de arejar o modelo instituído, permite sentir, testemunhar e apreciar o trabalho artesanal da apanha deste vegetal que também tem projectado o nome deste concelho.

Silvério Manata



fonte:
as confrarias gastronómicas portuguesas

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